Avançar para o conteúdo principal

POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Desejamos a todos um excelente 2010, recordando - com os seguintes versos do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade – que é dentro de cada um de nós que o Ano Novo “espera desde sempre”...


Receita de ano novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Poemas de Natal de Autores Portugueses

PRELÚDIO DE NATAL Tudo principiava pela cúmplice neblina que vinha perfumada de lenha e tangerinas Só depois se rasgava a primeira cortina E dispersa e dourada no palco das vitrinas a festa começava entre odor a resina e gosto a noz-moscada e vozes femininas A cidade ficava sob a luz vespertina pelas montras cercada de paisagens alpinas. David Mourão-Ferreira Natal Divino Natal divino ao rés-do-chão humano, Sem um anjo a cantar a cada ouvido. Encolhido À lareira, Ao que pergunto Respondo Com as achas que vou pondo Na fogueira. O mito apenas velado Como um cadáver Familiar… E neve, neve, a caiar De triste melancolia Os caminhos onde um dia Vi os Magos galopar… Miguel Torga

Escola para para ler

 Escola para para ler Esta atividade da Semana da Leitura ocorreu na sexta-feira dia 31 de março.  Todos os alunos e docentes da Escola  Secundária do Restelo foram convidados a ler um texto retirado do livro "A Guerra dos Mundos" H. G. Wells.  Posteriormente visualizaram um excerto do podcast de Orson.  

As comemorações do Centenário de José Saramago no Agrupamento de Escolas do Restelo

 No Agrupamento de Escolas do Restelo foram várias as atividades desenvolvidas, em articulação com currículo, no âmbito das comemorações do centenário de José Saramago. Esta revista, que aqui se partilha, contém uma súmula de todas as atividades realizadas. Saramago centenário AERestelo de Dina Cordeiro