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Comemoração do Dia Internacional da Biblioteca Escolar -MIBE

 Em Portugal, o Dia da Biblioteca Escolar assinala-se no mês de outubro, em 2021, dia 25/10.


A Biblioteca Navegar está a recolher  alguns contos tradicionais de diferentes países de todo o mundo.

Gostaríamos que os alunos se envolvessem nesta celebração. O PES estendeu a  comemoração do Dia Mundial da Alimentação até ao final do mês de outubro, tendo  a BE se associado a esta data comemorativa.

Assim, foi selecionada uma lenda portuguesa de nome “Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia” de Aquilino Ribeiro para ser lida em sala de aula, no espaço do 10 Minutos a Ler, em todas as turmas do Ensino Básico.


Lendas e Contos tradicionais Portugueses

“Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia”

Aquilino Ribeiro

«Era uma abóbora menina, muito redondinha, que saíra de uma flor tão grande e tão linda que de longe parecia pela forma um cálice de oiro, o cálice por onde os senhores bispos costumam dizer missa, e pelo brilho estrela caída do céu.

Atraídas pela cor viva e o perfume, que era brando mas suave, zumbiam-lhe as abelhas em volta e um grilinho viera com a caixa de música às costas acolher-se à sua sombra e ali fizera a lura. Perto, dentro de seus buraquinhos, viviam dois ralos, e uma cigarra passava a maior parte do tempo empoleirada numa das folhas da aboboreira a cantar.


Ora, com os dias, a flor murchara e no seu pedúnculo começou a crescer a abóbora redondinha. Era na entrada do Verão e à força de comer do solo, e beber do regadio, um pouco também entorpecida pelo calor, levava a vida a dormir. Crescia e dormia, dormia e crescia. Passavam por cima dela as nuvens ligeiras como caravelas e não as via; cantavam as rolas e o cuco, deixá-los cantar; batiam os manguais nas eiras, chiavam os carros da lavoura e a tudo permanecia indiferente. Cresceu, cresceu, e já espigadota, certa noite, mais quente, estranho ruído acordou-a. Que fanfarra era aquela? Pôs- se à escuta. As rãs do charco clamavam:

─ Dai-nos sol! Dai-nos sol!
Curioso, não pediam rei, pediam sol:
─ Dai-nos sol! Dai-nos sol!
Os ralos e a cigarra acompanhavam:
─Solzinho! Solzinho! Solzinho!
O grilo arpejava:
─ E que rico, rico! Que rico, rico! Rico!
E os sapos lá do fundo do campo em coro trauteavam:
─ Sol, sol, sol! Sol, sol, sol, canta rouxinol! Sol, sol, sol!!!


Que tinham aqueles doidos para fazerem tal banzé em vez de aproveitar o tempo para dormir?! O grilo, que lhe ficava mais perto, foi quem mais a intrigou. Muito negrinho, todo entregue à inspiração, lá ia tocando os pratos, que é como quem diz movendo as asas de ébano, com risquinhas de oiro, dum lado para o outro. Que dianho de bicharoco tão patusco e ridículo que não deixava dormir à gente o soninho descansado! E não se contendo mais, gritou-lhe:


─ Eh lá, seu casaca! Você não pode calar a caixa? Com tal brequefesta como hei-de eu dormir?!
─ Ora a palerma! – retorquiu o grilo, escandalizado. ─  Não querem lá ver, tem-se na conta de menina e é tão mona. Ah! Sua calaceira, cante, cante connosco a chamar o Sol que se não demore muito detrás dos montes e nos traga alegria e claridade.
─ Estou mesmo para isso! Olhe, sabe que mais, outro ofício e deixe dormir quem tem sono.
─ Outro ofício!… Essa não é má! Saiba, sua estúpida, que eu nasci para cantar. Tenho-o como um dever. Quando não cantar, rezem-me por alma. E chocando as asas tornou à cantiguinha:
─ Sol rico! Rico, rico! Rico…
E, em coro, sapos, ralos, rãs, cigarras, respondiam pela várzea fora:
─  Sol, sol, sol! Sol… E embalada pela serenata da noite a aboborinha voltou a adormecer. (…)»

 

                                                                                                                     (AN, 1989, pp.11,12,13)




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