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Elos de Leitura - Um Poema por dia

A Semana da Leitura irá decorrer na última semana de aulas, os Elos de Leitura serão os poemas. Em cada um dos dias da semana, será lido um poema e será dado especial destaque aos poemas de Shakespeare. Os poetas portugueses serão declamados por professores de Português e Shakespeare será declamado, em inglês, por alunos.
Navegámos para Oriente -
A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento

Um verde imóvel sob nenhum vento
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes

Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças luminosas

E extinguiram-se em nós memória e tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen, Navegações, Lisboa, Caminho, 2004

Dezasseis anos, talvez.
Vejo-a no café, cada manhã,
A folhear, atenta, um compêndio de inglês,
Com um perfume a Escola e a maçã.

Não me canso de a olhar. Às vezes, olha
(Um velho!), num desvio de atenção,
E logo volta a folha,
Enquanto molha
O bolo no “galão”.

Eu saio, com pesar, bebida a “ bica”.
Ela é a minha manhã,
Tão natural, tão clara… que ali fica.

Que saudades da Escola! Que fome de maçã.


 António Manuel Couto Viana, 60 anos de Poesia, Vol.II, Lisboa, INCM,2004.


Celebrar Shakespeare (400 anos da sua morte)
 [MINHA AMANTE NOS OLHOS SOL NÃO TEM]
 Minha amante nos olhos sol não tem,
mais rubro é o coral que sua boca,
se a neve é branca, o peito é escuro e bem,
se há toucas de oiro, negro fio a touca.
Vi rosas brancas, rubras, damascadas,
não tem rosas na face, ao contemplá-la,
e há essências que são mais delicadas
do que o bafo que a minha amante exala.
Gosto de ouvir-lhe a voz, contudo sei
da música mais doce a afinação,
e uma deusa a passar jamais olhei,
a minha amante a andar põe pés no chão.
Creio no entanto o meu amor tão raro
quão falsas ilusões a que o comparo.
  
 Shakespeare,W., in Vasco da Graça Moura, Os poemas da minha vida, Lisboa, Público, 2005, p. 58

E por vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos    E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites   não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
   
 David Mourão-Ferreira in  Vasco da Graça Moura, Os poemas da minha vida,Lisboa, Público, 2005, p. 139

Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Naturais como as fontes.

Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.

Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.

E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa de cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.

Vivam, apenas.
A Morte é para os mortos!


José Gomes Ferreira, Poeta Militante Viagem do Século Vinte em mim, 1.ºVol., Lisboa, Moraes Editores, 1977

Páscoa

Um dia de poemas
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares, sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da Primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.

  Miguel Torga, Poesia Completa, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 2000

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