BE - COMUNIDADE DE LEITORES JOVENS - Palestra Professor Doutor José Pedro Serra (FLUL) SÓFOCLES – ANTÍGONA
«Diz-se que o conflito de Antígona contra Creonte
representava o dos deveres familiares contra a razão de Estado. É ou não é
verdade. Porque Creonte, que é autoritário e orgulhoso, não age pelo bem do
Estado – acabará por reconhecê-lo. E Antígona combina na sua decisão uma parte
do sentido familiar com uma parte de simples humanidade e muito de religião. Mas
todos estes pares de deveres: família e Estado, humanidade ou autoridade,
religião ou respeito pelas leis, formam todos os conflitos que Sófocles,
nalgumas cenas, apresentou, vivos, diante de nós.
De
resto, as duas cenas que se seguem, e nas quais Creonte se vê submetido aos
argumentos de seu filho, Hémon, e depois do adivinho, Tirésias, limitam-se a
continuar, depois da partida da heroína, a análise dos princípios que jogam a
seu favor. Com Hémon é a humanidade e é, um pouco, o sentido político; porque
Hémon apoia-se na opinião, no que as pessoas dizem; e pede ao pai que não se
torne duro a ponto de não ouvir nenhum conselho: “ Não é isso que afirma o povo
unido de Tebas. - E a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?” E
mais adiante: “Queres falar,e, depois, não ter que ouvir.” (733-734,757). Em
contrapartida, Tirésias representa a religião; e fala da cólera dos deuses. No
entanto, o rei obstina-se: já se revelou tirânico; irá, na verdade, revelar-se
ímpio? Ele cede por fim; mas cede demasiado tarde: Antígona e Hémon morrerão
antes de saber que ele vinha libertá-los.» Romilly, J., A Tragédia Grega,
Lisboa, Edições 70,1977, pp.78-77.
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