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SUGESTÕES DE LEITURA NA SEMANA DA LEITURA

 

Os livros de março




Enquanto esperamos pelo desconfinamento e pela reabertura das livrarias, fiquemos a par das novidades editorias que podemos adquirir online. Propomos sete livros que incluem o romance, a filosofia, o ensaio, a poesia e a literatura infanto-juvenil. No mês em que se inicia a primavera, destaque especial para A Íris Selvagem, obra admirabilíssima de Louise Glück, vencedora do Prémio Nobel de Literatura 2020, que elege a natureza como um dos seus temas principais.


Louise Glück

A Íris Selvagem


Louise Glück era uma ilustre desconhecida dos leitores portugueses quando, no passado mês de outubro, foi anunciado o Prémio Nobel de Literatura 2020. Porém, a poeta já havia já recebido o Prémio Pulitzer, o National Book Award e o National Book Critics Circle Award, entre outros. A Íris Selvagem é o seu primeiro livro de poesia editado em Portugal. A questão de “deus” surge com o tema central desta extraordinária obra. Nalguns poemas, a autora interpela diretamente o criador sobre o seu silêncio, a sua ausência, sobre o “vazio do céu” (“Pai inacessível”, “Deixei de me perguntar onde estás”, “Nesta tua longa e prolongada ausência”). Noutros, “deus” assume a voz e contempla, ora com desdém, ora com compaixão, a sua criação (“Minha pobre e inspirada / criação, não passais / de distracção, de meros / epígonos: sois afinal / demasiado diferentes de mim / para me agradar”). Neste contexto, Glück canta o “terror dos filhos de deus”, o desespero da existência (“ser algo é ser quase nada”), a trágica consciência da finitude (“é árduo ser o animal descartável”), o sofrimento de viver neste mundo “exilado do céu”. Contudo, uma luminosa metáfora percorre o livro; o jardim. A paz momentânea através da comunhão com a natureza: árvores, flores, vegetais que se plantam na terra. Talvez a humanidade, como aponta um destes poemas, gaste “demasiado tempo / a olhar adiante” e o exemplo possa estar na flor que pode, simplesmente “florir, sem esperança de viver depois”. Tradução de Margarida Vale de Gato. Relógio D’Água

 William Melvin Kelley

Um Tambor Diferente


Em junho de 1957, todos os habitantes negros de Sutton – cidade criada pelo autor – pegam nos seus haveres e abandonam o local com destino incerto. O êxodo é iniciado por Tucker Caliban, último membro de antigos escravos pertencentes à família Wilson, descendente do fundador da cidade. Esta notável parábola sobre as tensões raciais na América é escrita com um requinte técnico formal que lembra As I Lay Dying de William Faulkner – nonólogos interiores e uma narrativa polifónica em que várias testemunhas (os brancos que permanecem na cidade) contam a sua visão do acontecimento central. Contrariamente ao habitual na literatura afro-americana, Kelley não pretende narrar na primeira pessoa a experiência traumática de vida no ambiente de segregação, racismo e violência da sociedade norte-americana. Ao autor interessa “saber como é ser branco” ou como é, “para os americanos em geral, viver sob as condições de supremacia branca e o racismo do quotidiano”. O mais extraordinário é que o tenha conseguido sem quaisquer vestígios de maniqueísmo. Celebrada como “obra-prima esquecida da literatura afro-americana”, esta é uma “história daquelas que [lamentavelmente] continua depois do fim.” Tradução e prefácio de Salvato Teles de Menezes. Quetzal                                    


                                                           

Patricia Reis

Da Meia-noite às Seis


Como o próprio título indica, Da Meia-noite às Seis, o mais recente romance de Patrícia Reis é uma viagem pela noite dentro. Pelo mundo, em tempos de pandemia, mergulhado na escuridão, “com todas as certezas da civilização a morrer em agonia, a esmorecer”. A narrativa desenvolve-se entre duas mortes: a do marido e a da mãe da protagonista, Susana Ribeiro de Andrade, animadora de rádio. Perdas que ocorrem num tempo que estragou “todos os rituais de consolo que os homens inventaram para enfrentar a morte”. A história de Susana cruza-se com a de Rui Vieira, jornalista que, na sequência dos traumas causados por um violento acidente de viação, perdeu a voz. Porém, Da Meia-noite às Seis, é também o título do programa de rádio que juntos vão criar, abraçando o trabalho como forma de sobrevivência. Através desta experiência vão redescobrir, madrugada após madrugada, a amizade e a importância de se ligarem a um mundo ainda “cheio de gente”. Num tempo em que a subsistência se fazia com muito pouco, os ouvintes do programa “entravam numa ilusão, da meia -noite às seis sonhavam e era gratuito.” Dom Quixote

                                                                                 

Maurice Blanchot

Thomas o Obscuro

Maurice Blanchot (1907-2003) é considerado um dos mais inovadores e prestigiados escritores, críticos e filósofos do século XX francês. Publicado em 1941, Thomas o Obscuro foi reescrito e republicado em 1950. A obra, que cruza filosofia e literatura, promove a seguinte reflexão: é possível existir um sujeito neutro? E, nesse caso, se é possível existir uma narrativa conduzida por um personagem neutro? Thomas (“Eu penso, logo não sou”) é a personificação do conceito de neutro que Blanchot explorou na sua literatura, figura sem personalidade que permite uma análise única do ser humano e simultaneamente do ser literário. A propósito do título, alguns pensam tratar-se de uma referência ao filósofo pré-socrático Heráclito, dito “o obscuro”, devido às sentenças oraculares da obra Sobre a Natureza. Porém, há quem veja também neste livro de Blanchot uma alusão a Jude the obscure, romance de Thomas Hardy, enquanto outros ainda dizem que estas pistas se destinam a confundir o leitor-intérprete. Segundo Michel Foucault: “Nada em Blanchot é previsível e isso faz dele um autor único no panorama das letras modernas. Este é um antirromance com um personagem neutro, vogando entre a leitura e a perda.” E.Primatur

                                                                                        


Craig Adams

Os Seis Segredos da Inteligência

O que significa “como pensar”? Para o linguista Craig Adams, significa saber distinguir factos de opiniões, saber distinguir quando a linguagem é utilizada como retórica para nos afastar do que é importante. Há mais de 2000 anos, na Grécia antiga, Aristóteles tinha já descoberto o modelo da mente humana. As mais recentes descobertas da ciência cognitiva demonstram que o modelo de Aristóteles se aplica à subtileza de pensamento, à capacidade de pensar bem. No entanto, até hoje temos usado um modelo educativo demasiado simplista. Usando o modelo de Aristóteles condensado em seis segredos, os três princípios fundadores da escola aristotélica – dedução, indução e analogia – combinados com os três princípios da verdade – realidade, significado e evidência -,o autor revela-nos os padrões para todos os debates e discussões e ensina-nos a não nos deixarmos manipular, independentemente do tópico em debate. Uma obra que reflete sobre os tempos em que vivemos, promovendo também a capacidade individual para contornar os social media e as fake newsTemas e Debates / Círculo de Leitores

Thomas Hardy

Longe da Multidão


Poucos escritores se distinguiram igualmente na poesia e na prosa, Thomas Hardy foi um dos mais brilhantes. Os seus poemas, longe de preciosismos, escritos numa linguagem próxima do discurso falado, prepararam o caminho para a poesia inglesa moderna. Os seus romances realistas, profundamente pessimistas, recebidos com a maior severidade pela sociedade vitoriana, perspetivavam o Homem como refém das duas maiores influências da civilização ocidental: a tragédia grega clássica e a noção de destino, o cristianismo e o conceito de culpa. As suas magistrais descrições da natureza, mesmo sem humanidade à vista, surgem sempre impregnadas das negras desolações humanas. O sucesso de Longe da Multidão, romance publicado em 1874, levou o autor a abandonar a carreira de arquitecto par se dedicar inteiramente à literatura. A história do amor do lavrador Oak pela bela e orgulhosa Bathsheba é uma das suas narrativas menos trágicas, levando uma personagem a concluir: “Mas, sendo as coisas como são, poderia ter sido pior, e dou graças a Deus por isso”. Presença                       


 

Oliver Jeffers

O Destino de Fausto


O mito de Fausto configura, na literatura universal, o símbolo do homem condenado a ser um eterno insatisfeito, destruído pela sede de saber, pela necessidade de tocar o eterno e compreender o misterioso. A Oliver Jeffers, premiado artista multidisciplinar, cujo trabalho se estende por diversos meios, da pintura à instalação, passando pela ilustração e a escrita para crianças, não é alheio o mito fáustico quando cria o presente livro. Contudo, Fausto, o protagonista desta história, é um produto perfeito dos tempos em que vivemos, alheio às questões éticas, filosóficas e metafísicas do seu ilustre antecessor. Numa sociedade marcada pela obsessão do consumo, este homem reduz-se à necessidade de ser dono de tudo. Primeiro de uma flor. Depois avança, reclamando para si uma árvore, um lago, uma montanha. Porém, insatisfeito, Fausto prossegue em direção ao mar. Mas a sede de poder revela-se fatal. Esta brilhante parábola política recria o destino de pequenos e grandes tiranos de todos os dias, mostrando a escala insignificante do homem face à natureza, e promovendo a reflexão sobre a importância da liberdade e o poder da resistência. Orfeu Negro

Colaboração: Prof. Linda David


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