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DIA MUNDIAL DE POESIA - 21 de março


Conta a Lenda que Dormia
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
                                                                      

   

CHAMO-TE PORQUE TUDO ESTÁ AINDA NO PRINCÍPIO

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio

E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,

Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.


Peço-Te que inundes tudo
.
E que o teu reino antes do tempo venha.

E se derrame sobre a Terra

Em primavera feroz precipitado


                                                               Sophia de Mello Breyner Andersen


LISBOA  AINDA

                                             Lisboa não tem beijos nem abraços

                                                   não tem risos nem esplanadas

                                             não tem passos

                                             nem raparigas e rapazes de mãos dadas

                                             tem praças cheias de ninguém

                                             ainda tem sol mas não tem

                                             nem gaivota de Amália nem canoa

                                             sem restaurantes sem bares nem cinemas

                                             ainda é fado ainda é poemas

                                             fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa

                                             cidade aberta

                                             ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste

                                             e em cada rua deserta

                                             ainda resiste.

                                                                                         Manuel Alegre

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